
A FUGA DO ÓCIO
A principal arma que o demônio utiliza é o ócio, fonte funesta de todos os vícios. Perceba logo que o homem nasceu para o trabalho e, quando o evita, está fora de seu centro e corre grande risco de ofender a Deus. O ócio, diz o Espírito Santo, é o pai de todos os vícios, e a ocupação combate e lhe vence a todos. Não há o que mais atormente os condenados no inferno do que saber que ficaram no ócio no tempo oportuno dado por Deus para que se salvassem. Pelo contrário, não há maior satisfação para os bem-aventurados do Céu que lembrarem o tempo empregado na glória de Deus.
Isso não significa que você deve ficar ocupado de manhã até a noite sem descanso algum. Eu te quero muito bem e concedo de bom grado aqueles divertimentos que não são pecado. Todavia, não posso deixar de te recomendar que busque atividades que, mesmo sendo para recreação, sejam de utilidade para a formação. Tal é o estudo de bons livros, o trabalho doméstico, e outros entretenimentos lícitos. Lembre-se de que fraudes, trapaças, alcunhas e palavras obscenas causam discórdias e ofendem os amigos. Mesmo nessas atividades de divertimento, eleve de quando em quando a tua mente ao Senhor, oferecendo-lhe tudo quanto estiver fazendo para Sua maior honra e glória. Certa vez, São Luiz, enquanto se entretinha alegremente com os amigos brincando, foi indagado no que faria se naquele momento aparecesse um anjo, avisando que em 15 minutos, Deus o chamaria ao Juízo. Ele prontamente respondeu que continuaria sua ocupação, porque estava certo de que aqueles divertimentos agradavam a Deus.
A FUGA DAS MÁS AMIZADES
Há três tipos de amigos: os bons, os maus e os que estão no meio termo. Com os primeiros nós podemos nos relacionar, que isso nos trará vantagens; com os últimos só quando houver necessidade; mas sem contrair familiaridade. Quanto aos maus, devemos evitar sempre.
Porém, quem são os maus amigos? Todos os que não se envergonham de ter conversas obscenas, murmuradores, mentirosos; blasfemadores, que têm vida escandalosa e que aconselham a desobedecer os pais, a roubar, a transgredir os deveres. Todos esses são péssimos companheiros e ministros de Satanás, dos quais você deve fugir como se do demônio mesmo fugisse.
Ouça o que diz o senhor: “Quem andar com o virtuoso, será também virtuoso”. O amigo dos estultos será seu semelhante. Estando com os bons, eu garanto que você alcançará o paraíso. Pelo contrário, permanecendo com os perversos, perverterá a sua alma, correndo grande perigo de perdê-la irreparavelmente.
Dirá alguém: “São tantos os maus amigos, que seria preciso sair deste mundo para poder evita-los todos”. É verdade que são muitos os maus amigos, e é justamente por isso que te recomendo tanto o fugir-lhes. Se para fugir-lhes for necessário ficar só, lembre-se de que sempre terá a companhia de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem Maria e do seu Santo Anjo da Guarda. Será melhor encontrar companheiros melhores que esses?
É possível encontrar bons amigos, e serão aqueles que frequentam o Sacramento da Confissão e da Comunhão; amigos que com palavras e exemplos estimularão o cumprimento dos deveres.
Desde que o jovem Davi conheceu Jônatas, tornaram-se grandes amigos com proveito recíproco, porque um animava o outro nas práticas das virtudes.
EVITAR AS MÁS CONVERSAS
Quantos jovens não estão no inferno por escutarem más conversas! Essa verdade já procurava São Paulo, quando dizia que as coisas inconvenientes não devem ser comentadas entre cristãos, porque são as ruínas dos bons costumes:
“As más companhias corrompem os bons costumes – corrumpunt mores bonos colloquia mala”. (1Cor, 15,33).
As conversas são como o alimento: por melhor que seja o prato, por melhor que seja o prato, se contiver uma só gota de veneno é o suficiente para matar; e tem o mesmo efeito as conversas obscenas. Uma palavra, um gesto, um gracejo para ensinar a malícia e o vício pra alguém, especialmente para os jovens, os quais vivendo até o momento como inocentes anjinhos, por causa destas más palavras e atos, perdem a graça de Deus e tornam-se miseráveis escravos de Satanás.
Alguém poderá dizer: conheço bem as funestas consequências das más conversas, mas, às vezes, estamos em um local que não é possível evita-las, então como fugir deste tipo de conversa? Se são pessoas subordinadas a você, corrija severamente; se são pessoas a que não convém reprimir, fuja, se puder; não podendo, fique firme para não tomar parte nem com sorrisos e nem com palavras, e com coração diga: Meu Jesus, misericórdia.
Pode acontecer que alguém escarneça, e ria de você, mas não se preocupe, tempo virá em que o riso e o sacarmos dos maus se transformarão em prantos no inferno, e o desprezo dos bons se converterá na mais consoladora alegria no paraíso:
“A vossa tristeza há de converte-se em alegria. – tristia vestra vertetur in gaudium” (Jo 16,20).
Note que permanecendo fiel ao Senhor, com o tempo esses mesmos que detratam serão obrigados a prezar a tua virtude. Onde se encontrava São Luiz Gonzaga, ninguém se atrevia a proferir palavras indecentes, quando se aproximava, diziam logo: “Calado! Aí vem Luiz”
EVITAR O ESCÂNDALO
A palavra “escândalo” quer dizer “tropeço”, e denomina-se escandaloso aquele que, com palavras ou obras, oferece a outros ocasião de ofender a Deus. O escândalo é um enorme pecado porque rouba de Deus as almas que foram criadas para o Céu e resgatadas pelo sangue precioso de Jesus Cristo, e lhe rouba para pô-las nas mãos do demônio, que as conduzirá ao inferno. Por isso o escandaloso pode ser chamado de um verdadeiro ministro de Satanás. Quando o demônio com seus artifícios não consegue se apoderar de alguém, costuma se servir dos escandalosos.
O que devemos dizer dos que ensinam malícias aos inocentes? O Senhor tendo tomado pela mão uma criança, voltou-se para a multidão que o escutava e disse:
“Quem escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que lhe atassem à roda do pescoço a mó que um asno faz girar, e que o lançassem ao mar” (Mc 9,42).
Uma menina muito jovem, ao ouvir uma conversa escandalosa, disse a quem falava: “Foge daqui, ó demônio maldito”. Se você, meu caro, quer ser verdadeiro amigo de Jesus e Maria, deve não somente fugir dos escândalos, mas se empenhar em reparar com o bom exemplo o grande mal que estes fazem às almas. Por isso tuas conversas sejam boas e modestas; seja devoto na igreja, obediente e respeitoso com os teus superiores. Como diz Santo Agostinho:
“O que procura a salvação de uma alma pode com fundamento esperar a salvação de sua alma – Animam salvasti, animam tuam praedestinasti”.
CUIDADO COM AS LEITURAS
Nunca leia obras de cuja seriedade não esteja seguro, peça antes conselho a quem pode discernir com critério justo. Caso possua livros perniciosos o melhor é destruí-los.
Quando falamos de livros contra os bons costumes, entenda obras que vão contra a moral, a religião e as práticas de piedade, e que atacam a Igreja e seus ministros. Porque não só os costumes, mas principalmente a fé deve se conservar pura e imaculada; aquele fé sem a qual, como diz São Paulo, não podemos agradar Deus; aquele fé pela qual milhares de mártires derramaram o próprio sangue.
Mesmo que os livros dessa espécie sejam atraentes e estejam em voga, devemos evitá-los. Por acaso você beberia com prazer um licor, se soubesse que está envenenado, só porque foi oferecido em um cálice de ouro?
Ainda mais que nós, católicos, não precisamos recorrer a tais livros, pois possuímos uma vasta e riquíssima literatura que pode perfeitamente entreter e instruir.
EVITAR ESPETÁCULOS IMORAIS
Frederico Ozanam, fundador das Conferências de São Vicente de Paulo e professor da Universidade da Sorbonne em Paris, gloriava-se, na presença do célebre Ampére, de nunca ter pisado num teatro público.
Os doutores da Igreja foram sempre unânimes em condensar os espetáculos teatrais. As razões para isso são a moral distorcida que apresentam e a apologia a todo tipo de vício.
Excetuo, é claro, as representações e filmes de caráter honesto, que podem divertir, sem nenhum perigo para os bons costumes e a fé; infelizmente, tais exibições são raras, ao passo que em grande escala se exibem espetáculos dúbios, onde a moral e a religião são desvirtuadas.
Referências:
São João Bosco, O Cristão Preparado Para a Prática dos Seus Deveres, cap. II.