
Que é oração mental?
Ouçamos Santa Teresa D'ávila: “Para mim, a oração mental não é senão tratar de amizade - estando muitas vezes tratando a sós - com quem sabemos que nos ama. E se ainda não O amais (porque, para que o amor seja verdadeiro e duradoura a amizade, deve haver compatibilidade; o Senhor exige como se sabe, que não se cometam faltas, que se seja perfeito; nós, no entanto, somos viciosos, sensuais e ingratos), não podeis por vós mesmo chegar a amá-Lo, porque não é de vossa condição; mas, levando-se em conta o muito que Ele vos ama e o quanto vale ter a Sua amizade, passei pelo sofrimento de estar muito na presença de quem é tão diferente de vós” (Livro da Vida, Cap. 8, N. 5).
Aviso breve: Procurai o mais cedo possível em cada dia fazer meia-hora de oração mental. A oração mental não é de necessidade absoluta, mas, com certeza, é de necessidade moral, para obter a perseverança. Aqueles que a não fazem dificilmente perseveram na graça de Deus, e isto por duas razões: primeira, porque as verdades eternas não se veem com os olhos do corpo, mas sim pela consideração do espírito; por conseguinte, quem as não medita não as vê; e não as vendo, dificilmente poderá conceber a importância da salvação, os meios que deve empregar, e os obstáculos que lhe cumpre remover; daí a dificuldade de salvar-se.
A segunda razão é que a alma que não medita não se exercita na oração; entretanto a oração é necessária, não somente por necessidade de preceito, senão também por necessidade de meio para observar os mandamentos, porque de ordinário Deus não dá o seu socorro senão a quem lho pede.
Ora, quem não pratica a oração mental conhece pouco as suas necessidades espirituais, assim como a precisão que tem de orar para resistir às tentações e salvar-se. Daí cede que não ora nada, ou quase nada: e não orando, perde-se. Um grande bispo, D. Palafox, dizia: «Como o Senhor nos dará a perseverança, se lha não pedirmos? e como lha pediremos sem a oração?» Santa Teresa afirmava que aquele que ora não poderá ficar muito tempo no pecado: não tardará a deixar uma das duas coisas, o pecado ou a oração; oração e pecado não andam juntos.
COMO REZAR A ORAÇÃO MENTAL?
A oração mental contém três partes: preparação, meditação e conclusão.
PREPARAÇÃO:
Na preparação fazem-se três atos:
1. Ato de fé na presença de Deus: Meu Deus, creio que estais aqui presente. Eu vos adoro com todo o meu ser.
2. Ato de humildade: Senhor, mereceria estar agora no inferno; arrependo-me de vos haver ofendido; perdoai-me.
3. Ato de petição de luzes: Pai Eterno, por amor de Jesus e de Maria, iluminai-me.
Depois, recomende-se a Maria Santíssima com uma Ave-Maria, recomende-se a São José, ao Anjo da Guarda, ao Santo Padroeiro com um Pai-Nosso.
MEDITAÇÃO:
Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.
Leia depois o ponto da meditação, pode ser as Sagradas Escrituras, ou as meditações diárias de Santo Afonso, ou um bom livro espiritual de algum santo. Não deixeis de meditar, ao menos de tempos a tempos, na Paixão de Jesus Cristo. Durante a leitura, demorai-vos nas passagens que mais impressão vos fizerem.
Observai enfim que o fruto da oração não consiste tanto em meditar como em produzir:
1° afetos, 2° orações e 3º resoluções. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:
1º Pelos Afetos: Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, de humildade, confiança, adoração, oferenda, resignação, louvor, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de breves atos de amor:
2º Pelas Súplicas: Pedir a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.
Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:
Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia! Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.
3º Pelas Resoluções: de corrigir-se de algum vício em particular ou, por exemplo, evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.
CONCLUSÃO:
Agradecer a Deus e terminar rezando um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Não vos esqueçais de recomendar a Deus as santas almas do Purgatório e os pobres pecadores.
Não omitais a vossa meditação costumada, qualquer que seja a frieza ou enojo que sofrais. Sem isto, diz Santa Teresa, a alma se atirará por si mesma no inferno. Desde que uma alma persevera na oração, ajunta ela, estou certa que o Senhor à conduzirá ao termo da salvação.
DEPOIS DA MEDITAÇÃO
Depois da meditação devemos:
1º Conforme o conselho de São Francisco de Sales, fazer um ramalhete de flores afim de cheirá-lo durante o dia, quer dizer, imprimir bem na memória um ou dois pensamentos que mais impressão nos fizeram, para os recordarmos e nos revigorarmos durante o dia.
2º Por logo em prática as resoluções tomadas, tanto nas ocasiões pequenas como nas grandes, que se apresentarem: por exemplo suportarmos com paciência uma pessoa irada contra nós, mortificarmo-nos na vista, no ouvido, na conversa.
3º Por meio do silêncio e recolhimento, conservar o mais tempo possível os afetos excitados na oração; sem isso, o fervor concebido na oração esvaecer-se-á logo pela dissipação no proceder ou pelas conversas inúteis.
Afetos, atos e orações para ajudar iniciantes:
Ato de Amor (de santa Teresa d'Ávila): Meu Deus, eu vos amo de todo o meu coração, vos estimo mais que todas as coisas. Alegro-me porque sois infinitamente feliz. Desejaria ver-vos amado de todos os homens. Fazei-me conhecer o que desejais de mim: estou pronto para fazer tudo. Disponde de mim e de tudo o que é meu como vos aprouver.
Humildade: Meu Senhor Jesus Cristo, que eu não tenha de mim mesmo uma estima maior do que tenho de ter, mas, sentimentos modestos, segundo a medida da fé, distribuída por Deus. Que eu seja modesto com os humildes, e rejeite partilhar despojos com os soberbos.
Confiança: Confio em Vós, meu Senhor e meu Deus, de todo o meu coração, e não me apoio em minha prudência. Quero pensar em Ti em todos os meus caminhos, pois o Senhor endireitará minhas veredas.
Amor: Amo-Vos, meu Deus, de todo o meu coração, de toda a minha alma, sobre todas as coisas, por serdes Vós quem sois, infinitamente bom e digno de todo o amor. E amo também todo o meu próximo como a mim mesmo, e unicamente por amor de Vós quero cumprir todos os preceitos da Vossa santa Lei.
Dor: Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me.
Oração:
Resignação a vontade de Deus (De S. Gertrudes): Pai omnipotente e santíssimo, ainda que eu não seja mais que uma pobre e vil criatura, dignai-Vos permitir-me de renunciar nas vossas mãos a minha própria vontade. Eu me ofereço e sacrifico inteiramente a vossa divina vontade. Desejo que esta amabilíssima vontade se cumpra sempre em mim, tanto no corpo como alma, no tempo e na eternidade. Unindo-me aquela divina resignação com que Jesus se entregou no horto das Oliveiras a vossa santíssima vontade, apropriando-me sua intenção, sua palavra, e seu coração, digo-Vos e torno a dizer-Vos mil vezes: «Ó meu Pai, vossa vontade e não a minha se cumpra no tempo e na eternidade!» Ó bom Jesus, eu me ofereço a Vós, e me entrego nas vossas mãos, com a disposição de bem receber as aflições e adversidades que me ameaçam. Recebê-las-ei de bom grado, e as suportarei com toda a paciência de que eu for capaz, unindo-me ao amor com que recebestes as penas, as injurias, e as calunias que vosso Pai permitiu. Dignai-Vos conceder-me a paciência e as forças necessárias para suportar com animo estas tribulações que vão cair sobre mim, e fazei que sirvam para vossa glória, para minha salvação e a de todos os pecadores e para alívio das almas do purgatório. Amém.
Perseverança: Senhor, vinde em meu auxílio; ajudai-me a mortificar continuamente as minhas paixões que nunca morrem, como ervas daninhas que sempre germinam de novo. Dai-me perseverança neste combate que só acaba com a morte. Se o Senhor tardar a me conceder a vitória, nem por isso devo desanimar. Todas as coisas que me molestarem, sejam quais forem elas e por mais que pareçam pôr em perigo minha vitória, todas elas se converterão em benefício e vantagem minha, se me mostrar fiel a Vós e ao combate.
Referências:
Explicação: Livro da Vida, (Cap. 8, N. 5), por Santa Teresa de Ávila.
Método tirado do livro: A oração de Santo Afonso Maria de Ligório.
Algumas orações do livro: Adoremus.