
OBJEÇÃO: É possível pertencer à “Alma” da Igreja sem pertencer ao seu Corpo. Deste modo, aqueles que morrem como membros de religiões não-católicas podem unir-se à Igreja e serem salvos, tal como explica o Catecismo de Baltimore (1921):
"Pergunta. 512. De que modo tais pessoas pertencem à Igreja?
Resposta. Tais pessoas pertencem à “Alma da Igreja”, isto é, são realmente membros da Igreja sem o saberem. Aqueles que participam dos seus sacramentos pertencem ao corpo ou à parte visível da Igreja".
RESPOSTA: A heresia da Alma da Igreja é destruída por um exame do ensinamento católico. A heresia da Alma da Igreja consiste no ensinamento de que uma pessoa pode ser salva noutra religião ou sem a fé católica mediante a união à Alma da Igreja, mas não ao Corpo. (Esta heresia corre desenfreada e é mantida por multidões de leigos e sacerdotes “tradicionalistas.”) Os propagadores desta heresia são forçados a admitir que a pertença ao Corpo da Igreja só pode vir através do Batismo.
A “Heresia da Alma da Igreja” será agora refutada por um sólido estudo de vários pronunciamentos magisteriais.
Em primeiro lugar, esta heresia tem a sua raiz numa má concepção do verdadeiro significado do termo “Alma da Igreja”. A Alma da Igreja é o Espírito Santo. Não é uma extensão invisível do Corpo Místico que inclui os não-batizados.
Papa Pio XII, Mystici Corporis, 29 de Junho de 1943: “… Leão XIII, de imortal memória, na encíclica ‘Divinum Illud,’ [expressou isto] por estas palavras: ‘Que seja suficiente afirmar isto: tal como Cristo é a Cabeça da Igreja, o Espírito Santo é a sua Alma’”[1].
Em segundo lugar, a Igreja é essencialmente (isto é, na sua essência) um Corpo Místico.
Papa Leão X, Quinto Concílio de Latrão, Sessão 11, 19 de Dezembro de 1516: “... o corpo místico, a Igreja (corpore mystico)…”[2].
Papa São Pio X, Editæ sæpe (#8), 26 Maio de 1910: “… a Igreja, o Corpo Místico de Cristo…”[3].
Papa Leão XII, Quod Hoc Ineunte (#1), 24 de Maio de 1824: “… o Seu Corpo Místico”[4].
Portanto, ensinar que uma pessoa pode ser salva sem pertencer ao Corpo é ensinar que uma pessoa pode ser salva sem pertencer à Igreja, uma vez que a Igreja é um corpo. E isso é sem dúvida HERÉTICO.
Um homem só pode estar ou dentro da Igreja ou fora da Igreja. Ele não pode estar simultaneamente dentro e fora do Corpo. Não existe um terceiro domínio no qual a Igreja exista — uma Alma invisível da Igreja. Aqueles que dizem que é possível ser salvo por pertencer à Alma da Igreja, não pertencendo ao seu Corpo, negam a unidade indivisa da Alma e Corpo da Igreja; o que é análogo a negar a unidade indivisa das naturezas Divina e Humana de Cristo.
Papa Leão XIII, Satis Cognitum (#3), 29 de Junho de 1896: “Por esta razão, a Igreja é frequentemente referida nas Sagradas Letras como um corpo, e também como corpo de Cristo… Disto segue-se que estão em erro pernicioso aqueles que, retratando uma Igreja à medida de seus desejos, imaginam-na oculta e invisível… Ambas as concepções são igualmente incompatíveis com a Igreja de Jesus Cristo, assim como tanto o corpo quanto a alma são incapazes de por si só constituírem um homem. A conexão e união de ambos os elementos é absolutamente necessária à verdadeira Igreja assim como o é a união íntima da alma com o corpo à natureza humana. A Igreja não é uma espécie de cadáver: é o Corpo de Cristo animado com a sua vida sobrenatural”[5].
A negação da união do Corpo e Alma da Igreja leva à heresia de que a Igreja é invisível, o que foi condenado pelos papas Leão XIII (acima), Pio XI [6] e Pio XII [7].
Em terceiro lugar, o argumento mais forte contra a heresia da “Alma da Igreja” segue logicamente dos dois já discutidos. A terceira prova é que o magistério infalível da Igreja Católica definiu que pertencer ao Corpo da Igreja é necessário para a salvação!
O Papa Eugênio IV, na sua famosa bula Cantate Domino, define que a unicidade do corpo eclesiástico (eclesiastici corporis) é tão importante que ninguém pode salvar-se fora deste, mesmo que derrame o seu sangue pelo nome de Cristo. Isto destrói a ideia de que uma pessoa pode salvar-se por pertencer à Alma da Igreja sem pertencer ao seu Corpo.
Papa Eugênio IV, Concílio de Florença, “Cantate Domino”, 1441, ex cathedra: “A Santa Igreja Romana crê firmemente, professa e prega que nenhum dos que estão fora da Igreja Católica, não só pagãos como também judeus, heréticos e cismáticos, poderá participar na vida eterna; mas que irão para o fogo eterno que foi preparado para o demônio e os seus anjos [Mat. 25:41], a não ser que a Ela se unam antes de morrer; e que é tão importante a unicidade do corpo da Igreja (eclesiastici corporis) que só aos que nela permanecem lhe aproveitam, para a salvação, os sacramentos da Igreja e [lhes] dão prêmios eternos os jejuns, as esmolas e as demais obras de piedade e os exercícios do dever cristão. E que ninguém, por mais esmolas que dê, ainda que derrame seu sangue pelo Nome de Cristo, pode salvar-se se não permanecer no seio e na unidade da Igreja Católica”[8].
Esta definição do Papa Eugênio IV demole a “Heresia da Alma da Igreja.” O Papa Pio XI também a destrói.
Papa Pio XI, Mortalium Animos (#10) 6 de Janeiro de 1928: “Pois, uma vez que o Corpo Místico de Cristo é um só, compacto e adequadamente conexo à semelhança do Seu corpo físico, seria tolice e absurdo afirmar que o Corpo Místico é composto de membros separados e desunidos: quem, portanto, não está unido ao Corpo não é Seu membro e nem está em comunhão com Cristo, Sua cabeça”[9].
Fica assim refutada a “Heresia da Alma da Igreja.”
Papa Leão X, Quinto Concílio de Latrão, Sessão 11, 19 de Dezembro de 1516, ex cathedra: “Uma é, com efeito, a Igreja Universal dos regulares e seculares, dos prelados e súbditos, dos isentos e não isentos, fora da qual absolutamente ninguém se salva, e todos eles têm um Senhor e uma fé. Por isso, é conveniente que, pertencendo ao mesmo corpo, tenham também uma e a mesma vontade…”[10].
Papa Clemente XIV, Cum Summi, (#3), 12 de Dezembro de 1769: “O corpo da Igreja é um; Jesus Cristo é a sua cabeça, e é n'Ele que nós todos formamos uma só coisa”[11].
Referências:
[1]. Denzinger, The Sources of Catholic Dogma, B. Herder Book. Co., Thirtieth Edition, 1957, 2288.
[2]. Decrees of the Ecumenical Councils, Sheed & Ward and Georgetown University Press, 1990, Vol. 1, p. 639.
[3]. The Papal Encyclicals, by Claudia Carlen, Raleigh: The Pierian Press, 1990, Vol. 3 (1903‐1939), p. 117.
[4]. The Papal Encyclicals, Vol. 1 (1740‐1878), p. 205.
[5]. The Papal Encyclicals, Vol. 2 (1878‐1903), p. 388.
[6]. Papa Pio XI, Mortalium Animos (# 10), 6 de Janeiro de 1928.
[7]. Papa Pio XII, Mystici Corporis Christi (# 64), 29 de Junho de 1943.
[8]. Denzinger 714; Decrees of the Ecumenical Councils, Vol. 1, p. 578.
[9]. The Papal Encyclicals, Vol. 3 (1903‐1939), p. 317.
[10]. Decrees of the Ecumenical Councils, Vol. 1, p. 646.
[11]. The Papal Encyclicals, Vol. 1 (1740‐1878), p. 160.
Retirado do Cap. 18 (A Heresia da Alma da Igreja), do livro "Fora da Igreja Católica Não Há Absolutamente Salvação" escrito por Ir. Pedro Dimond.